domingo, 12 de agosto de 2012


A origem da Caderneta Pessoal


“Como estas águas de Deus lavam teu corpo, seja igualmente purificada a tua alma pelo arrependimento, porque Nosso Senhor não tarda”.

Eram essas as palavras pronunciadas durante a cerimônia em que, nos albores da humanidade espiritualista, neófitos eram consagrados, passando a integrar o discipulato da Fraternidade Essênia, estando implícito o compromisso de uma vida purificada.

Para ser o neófito elevado a discípulo, era necessário que fosse submetido a sete dias de recolhimento, nos quais passava em revista a sua vida pregressa, registrada em documentos diversos, oportunidade em que media suas forças para a nova etapa a empreender, o mesmo se dando por ocasião de promoção para os outros graus (que eram três) existentes entre os Essênios.

Foi inspirado nessa prática, utilizada pelos descendentes de Essen, que a Caderneta Pessoal foi implantada em 1950 na EAE com aprovação global do Plano Superior.

Vivência do Espiritismo Religioso, Editora Aliança



 

Instruções para o Uso da Caderneta Pessoal

Impresso a ser colado nas Cadernetas:

INSTRUÇÕES PARA O USO DESTA CADERNETA

Esta caderneta é uma arma eficiente na luta pela Reforma Íntima, que é o objetivo essencial da Escola de Aprendizes do Evangelho.

Não a confunda com confessionário. Ela não tem o dom de perdoar pecados.

Quando sentimos que estamos cultivando determinados vícios ou defeitos, devemos relacioná-los na caderneta. Assim, auxiliados por estas mesmas anotações, faremos um balanço periódico de nossa conduta e pensamentos, para verificar se já conseguimos vencer alguns desses defeitos. Grave bem: o esforço de vencê-los é todo nosso; a caderneta é apoio eficiente de que nos valemos.

A caderneta deve receber somente aquilo que diz respeito à nossa reforma moral. É um erro utilizá-la como diário sentimental, transformando suas páginas em muro de lamentações. Ora, lamentações denotam a existência de, pelo menos, um defeito íntimo: o egoísmo. Assim, a auto-análise nos indica que é o egoísmo que devemos combater para terminarmos com o vício da lamentação.

A caderneta não é, também, para receber somente anotações do tipo: “eu sou inferior e não consigo melhorar” ou “nada tenho a dizer, tudo vai bem”. Ora, basta reconhecer nossa inferioridade uma única vez; reconhecida esta condição, partamos para objetivos superiores. E, se nada temos a dizer, é porque não estamos levando a sério o nosso procedimento, pois um simples gesto – como a forma de cumprimentarmos um irmão – traz sempre consigo uma carga vibratória que fala daquilo que temos no coração.

O ideal é fazermos anotações periódicas na caderneta; cada anotação numa folha com a data respectiva, para que possamos acompanhar, cronologicamente, a nossa caminhada.

Enfim, a caderneta deve ser a testemunha silenciosa dos esforços feitos em prol da Reforma Íntima; elemento de comparação nas mudanças ue se operarão, troféu de uma batalha que o aprendiz venceu contra si próprio e contra as ilusórias atrações do mundo. Um instrumento para registro de atividades espirituais, sempre à mão; uma bússola qua aponta e relembra compromissos de caminhos retos e de conduta perfeita. Vivência do Espiritismo Religioso, Editora Aliança

Considerações sobre a Caderneta Pessoal

Desde o início das aulas os alunos recebem uma Caderneta Pessoal (com dimensões aproximadas de 15cm x 11cm) de múltiplas utilidades, quais sejam: escrituração das notas escolares exaradas pelos Dirigentes; anotações feitas pelo próprio aprendiz sobre tudo quanto ocorra no seu íntimo e que seja útil ao aprendizado, à vivência espiritual e que reverta em benefício próprio como, por exemplo, transformações morais e psíquicas, eliminação de hábitos e vícios ruinosos, aquisição de virtudes, melhoramentos de conduta, surgimento de faculdades mediúnicas, trabalhos realizados, etc.

A Caderneta reúne dados de apreciação pessoal, de resultados dos esforços de reforma e concorre, ela mesma, à apuração deles e pode conter ou não, indiferentemente, os nomes de seus portadores. Muitos preferem a representação dos nomes por números, para satisfação de escrúpulos pessoais, ou de amor próprio convindo, porém, considerar que o que deve interessar a todos é libertarem-se das imperfeições, para que as almas surjam à luz do dia em claridades enobrecedoras e não dissimularem o que quer que seja, porque isto é, também, esforço e testemunhação.

O que se registra nas Cadernetas é examinado, ao fim de cada ano letivo (atualmente os dirigentes devem ler as Cadernetas Pessoais e rubricá-las ao menos a cada 90 dias), pelos dirigentes das turmas ou pelos chefes dos respectivos Núcleos de Contato, que neles exaram uma apreciação sucinta e em caráter reservado sobre o resultado do aprendizado e as condições do aproveitamento individual, fornecendo as indicações e os conselhos que forem necessários. A apreciação é dada em caráter impessoal, sem preocupações sobre a identidade, para que possa ser feita com isenção e imparcialidade.

Vivência do Espiritismo Religioso, Editora Aliança



Para que serve a Caderneta Pessoal?

Se no Caderno de Temas o Aprendiz é conduzido a uma formidável análise introspectiva, colocando-se diante de uma “reação de espelho”, desnudando-se espiritualmente diante de si mesmo, é na Caderneta Pessoal que ele registra suas descobertas no complexo terreno interior. Alinha, enumera e analisa em pormenores os resultados das suas reflexões para, em seguida, armar-se contra as ameaçadoras feras que habitam o nosso mundo íntimo. Perguntamos aos amigos leitores: não é um processo semelhante que nós utilizamos quando nos vemos às voltas com os problemas corriqueiros que a vida nos oferece? Primeiro dividimo-los e em seguida vencemos as parcelas que, quando reunidas, se mostravam ameaçadoras?

Sim, irmãos, é na Caderneta Pessoal que registramos as descobertas propiciadas pela análise introspectiva, anotamos os progressos alcançados no combate aos vícios e na contenção dos defeitos.

Jacques André Conchon – O Trevo (Maio/1975)



Uma técnica através de anotações

“Não julgueis o caminho de outro homem antes que tenha caminhado uma milha com seus mocassins”. (Dizer dos Índios Pueblos)

A busca do autoconhecimento passa sempre pela análise que fazemos dos nossos sentimentos. Para isso poderemos dispor de alguém que nos auxilie nessa análise que, em casos específicos, poderá ser de atovalia, ou enfrentaremos “essa jornada” sozinhos, quando seremos nossos próprios “analistas”.

Uma técnica, que tem sido de grande utilidade, é a realizada através de anotações, quando utilizando-se de uma metodologia bem definida, passamos a fazer anotações em uma caderneta, de fatos, sentimentos, atitudes e decisões que envolvem nosso dia-a-dia e que podem estar ligados ao nosso desenvolvimento evolutivo. Essa técnica de anotações, que aqui apresentamos, não é nenhuma novidade para quem conheceu as primeiras Escolas de Aprendizes do Evangelho da Federação Espírita do Estado de São Paulo, as da Aliança Espírita Evangélica (desde 1973), as da Fraternidade dos Discípulos de Jesus – Setor Três, e as da União Fraternal.

O que procuraremos aqui apresentar é uma metodologia objetiva, que poderá ser utilizada tanto por aqueles que desconhecem tal técnica, quanto por aqueles que as conhecem e desejam conseguir melhores resultados em sua utilização.

Material a ser utilizado

Uma caderneta, preferencialmente de pequenas dimensões (por exemplo, de 10cm por 15 cm), com cerca de 100 páginas e pautada. É importante que seja pequena para que possamos transportá-la facilmente, de forma que a tenhamos disponível quando for necessário.

Frequência de uso

Não existe uma regra que indique o espaço de tempo ideal entre as anotações, entretanto, um período de análise adequado é o ciclo de uma semana, pela rotina de vida que ela representa em nossa vida. Anotações mensais também poderão ser adequadas, quando já tivermos vencido os grandes obstáculos de nossa reforma íntima, quando já não sofrermos tantas frustrações e quando deixarmos de viver constantemente com problemas de saúde. Em muitos casos, poderá ocorrer a necessidade de anotações diárias, mas devem ser estas em casos excepcionais, quando houver uma inter-relação entre elas, ou seja, adotaremos como proposta a anotação semanal, afinal isso só poderá nos favorecer em sermos objetivos em nosso trabalho de auto-reformulação.

É importante que seja colocada a data (dia, mês e ano) no início de cada anotação para que possamos acompanhar a sequência dos fatos e das propostas que fizermos. A cada dois ou três meses, é importante fazermos uma análise das avaliações realizadas no período, e fazermos um breve comentário sobre os êxitos por nós alcançados e sobre pontos críticos que deveremos atuar com mais empenho em nossa reforma. Essa anotação será como um fechamento do período.

Característica das anotações

Devem ser anotações sucintas, mas contendo toda uma estrutura que permita, com facilidade, realizarmos a nossa auto-análise, que é o nosso objetivo. Dessa forma as anotações deverão conter, além da data inicial, os seguintes tópicos:

  • Fato ocorrido comigo, onde a minha ação causou-me frustração ou surpresa, pela minha mudança de atitude.

  • Sentimento Defensivo meu causador da atitude, identificável pela ação ou pela somatização ocorrida.

  • Atitude adequada a ser tomada por mim em situações semelhantes futuras.

  • Ação corretiva, regeneradora ou minimizadora dos atos nocivos, por mim provocados, que envolvam meu semelhante, quando for necessário. Em alguns casos, durante o fato ocorrido chega-se a realizar a ação corretiva, assim sendo, deve-se relatá-la na anotação. É importante entender-se que a ação corretiva, regeneradora ou amenizadora não poderá ser a causadora de uma nova frustração o que significaria que o problema de reformulação inicial não foi resolvido. Por exemplo: “… e após a briga pedi desculpas a ele, para amenizar a situação, mas permaneci com raiva”.

A primeira anotação que pretendemos fazer é sempre a mais difícil, pelo desejo de estar perfeitamente preparado para ela. Mas só perceberemos posteriormente, que é através de várias anotações que estaremos aprendendo a pôr em prática, com mais habilidade, essa técnica de auto-análise. Dessa

M E N S A G E M

A ambição universal dos homens é viver colhendo o que nunca plantaram”. Esta frase é atribuída ao economista e filósofo escocês Adam Smith. Ela sintetiza o que vai dentro de todos nós, poupando um tempo valioso, para quem a assimila e aceita, na autoconstatação de uma realidade provinda do âmago de nossos desejos mais básicos.

O esforço, portanto, é necessário, mas poucas vezes desejado (salvo por aqueles que já se conscientizaram de sua imprescindibilidade) e isso fica bem evidenciado em qualquer mensagem espiritual séria, que sempre realça a necessidade de perseverança.

Como a Caderneta Pessoal não é fim ou objetivo, mas, sim, o meio pelo qual a pessoa se condiciona a perseverar no “conhece-te a ti mesmo”, implica em esforço não só nas anotações periódicas, mas também e principalmente no esforço de desnudar-se com a frequência necessária diante do tribunal da própria consciência. Graças a isso, a utilização não apenas mecânica e forçada, mas sim espontânea e mais focada na vivência das propostas de mudança ali registradas, leva o aprendiz a uma plena sintonia com uma das qualidades de “O Homem de Bem” (O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. XVII) que, dentre outros ensinamentos, nos alerta que: “O verdadeiro homem de bem é aquele que estuda as suas próprias imperfeições, e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços tendem a permitir-lhe dizer, amanhã, que traz em si alguma coisa de melhor do que na véspera”.

Oh, mas como é difícil estudar imperfeições e trabalhar sem cessar em combatê-las! Estudar imperfeições é reconhecer equívocos na forma de conduzir nossa vida; e combatê-las sem cessar é praticamente nadar contra a correnteza dos impulsos a que estamos acostumados.

Um exemplo de esforço não só de, digamos, anotação (no caso, em uma carta), mas também de reforma íntima, são as sinceras palavras de Paulo, na Epístola aos Romanos, 7:14-20. Ali, quando diz que a lei que está em seus membros luta contra a lei da sua razão, Paulo deixa bem claro o esforço que o ser humano terá que empreender para que a razão, embasada nos exemplos de Jesus Cristo, vença os instintos egoístas, ou seja, os defeitos que ainda estejam enraizados dentro de si.

Ao contrário do que possa parecer, somos, no presente momento, seres privilegiados já que dispomos de um professor chamado Jesus, seguido por um racional e destemido auxiliar chamado Espiritismo, além é claro desta valiosíssima e um pouco mais lúcida encarnação a nos proporcionar um recomeço mais firme no esforço da reforma íntima. Assim, não deixemos para outra encarnação o que podemos e devemos fazer agora. Neste sentido, para encerrar, vale a pena lembrarmo-nos da conversa contida no livro Reencarnação no Mundo Espiritual, cap. 10, pag. 107, psicografado pelo médium Carlos A. Baccelli, ocorrida entre os espíritos Dr. Inácio Ferreira, autor espiritual do livro e um dos responsáveis pelo Hospital Esperança existente na erraticidade, e Rosendo, este paciente do hospital e mais um dos diversos espíritas desencarnados e desiludidos consigo mesmos ao se depararem com a realidade de falta de luz interior, embora muitos com extensa ficha de trabalhos meritórios dentro da doutrina:

“- Bendita seja a Reencarnação! – exclamou. – Mas devo, antes, me preparar um pouco mais… Se optasse por imediato regresso ao corpo, correria o risco de reincidir, o senhor não acha?

- Acho! [...] Você está certo: fortaleça-se primeiro! Trabalhe, estude e, sobretudo, medite, quanto puder, nos insucessos e frustrações em sua derradeira romagem no corpo. Efetue, você mesmo, um balanço do que fez e do que deixou de fazer. Há uma técnica que, talvez, possa lhe ser útil – ela tem sido utilizada por muitos de nós: escreva, nas páginas de um caderno, uma espécie de diário de auto-análise, procurando transferir para o papel, com toda a honestidade, os seus pensamentos a respeito de si… Chega, não é? De avaliar a vida alheia. Já fizemos doutorado em julgar os outros!”

Assim, esforcemo-nos para fazer a caderneta desde já e com honestidade, como diz o Dr. Inácio, para que, quando do outro lado, não nos surpreendamos por estarmos muito atrasados na tarefa essencial das nossas vidas: a nossa evolução espiritual.

Marcelo Ricardo Lemes Rebocho – Regional SP-Norte
O Trevo/Jan-2011 – Aliança Espírita Evangélica

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